Cada vez que oiço falar no famoso “Referendo à Co-Adopção” ou, mais correctamente, na proposta de realização do mesmo, não posso deixar de pensar no punhado de areia que foi atirado para os olhos do Zé Povinho. Nestes momentos de reflexão, cheguei à humilde conclusão de que a dita proposta não foi mais do que uma manobra de diversão, um embuste. Sigam por favor o meu raciocínio.
A Assembleia da República e, em particular, os deputados por nós eleitos, têm como honrosa missão e profissão definir as Leis com que se rege a nossa vida neste paraíso à beira mar plantado, certo? Ora, se assim é, porque temos de referendar matérias ou leis desta natureza? A dúvida fez-me pensar e olhar para a questão de diferentes prismas…
Admitindo tratar-se de uma “matéria sensível” e que pode, de alguma forma, mexer com aspectos de “legitimidade moral” ou dos “bons costumes” (que por cá gostamos de defender fervorosamente na imensa aura de toda a nossa pequenez), claro está que importaria consultar todo o Povo Português sobre “tamanha alteração”*.
Ou não! Talvez fosse apenas necessária a “coragem política” ou, sem eufemismos, uns bons pares de tomates, para aprovar esta alteração legislativa.
Vejamos… se não tem havido qualquer pudor em aprovar, umas atrás das outras, mexidas em direitos fundamentais dos Seres Humanos denominados de Povo Português, não deixo de questionar a leviandade com que se propôs referendar a co-adopção de crianças por casais do mesmo sexo.
Porventura estas outras matérias não nos diriam tão ou mais respeito do que o projecto de lei da co-adopção? A verdade é que não se propuseram referendos para auscultar a vontade dos portugueses sobre as opções tomadas pela maioria no Parlamento. Pois se, e perdoem-me a franqueza, houve tomates para decidir tanto em tão pouco tempo, porque faltou tão pouco para aprovar este diploma?
Mas há mais: tendo em conta, como dizia o outro, que “o País está de tanga”, quem diabo se lembraria de gastar cerca de uma dezena de milhões de euros na realização de um referendo sobre este tema, nos tempos que correm e com as dificuldades que atravessamos?
Quanto mais penso nisto, mais me ocorre que já tudo estaria devidamente cozinhado: aprovação na generalidade, adiamentos sucessivos da votação na especialidade, a proposta de referendo aprovada em plenário, a análise do Presidente da República, o envio para o Tribunal Constitucional, o chumbo ao referendo, nova votação na Assembleia da República e, voilà, o chumbo na especialidade com excelentíssimos Deputados a mudar o sentido de voto no espaço de alguns meses.
Em suma, numa “matéria fundamental” como esta, muda-se, ao cair do pano e numa viragem quase esquizofrénica, de opinião.
Finalmente, quando vejo escarrapachadas nas capas da revistas cor-de-rosa (vulgo, sem eufemismos, papel higiénico de baixíssima qualidade) um famoso casal de cabeleireiro e modelo da nossa praça a exibirem as “suas crias” como se de cães de loiça na feira de Azeitão se tratassem, não deixo de pensar que neste cantinho da Europa, existem de facto aqueles (poucos) privilegiados que são filhos da Mãe e os restantes que não são mais do que filhos abandonados de uma grandessíssima Puta. E o pior neste caso é que são as Crianças quem fica a perder…
Recuperando o título de Miguel Esteves Cardoso, “Como é Linda a Puta da Vida”, arriscaria dizer: “Como é Linda a Puta da Democracia em Portugal”.
Mano, isso é que foi pôr o dedo na ferida!!! Muita bom...
ResponderEliminarCaro Bruno,
ResponderEliminarObrigado pelo seu comentário. Limito-me a escrever as coisas tal como as vejo... seja com os olhos ou com o coração.
Abraço,
Gonçalo Ene