A Génese deste Blog

Crio este blog numa fase particularmente nebulosa da minha vida, mas a verdade é que este é porventura um momento em que as verdades essenciais se me afiguram mais claras.
"Falarei" sem rodeios dos eufemismos que nos rodeiam no dia-a-dia e que vão travestindo de forma mais ou menos subtil as verdades que não são ditas ou que, de tão bem camufladas, tendem a perder o seu real impacto.
Não pretendo aqui partilhar, pregar ou defender cores, bandeiras, religiões ou políticas. Nos escritos que aqui deixar, e que amavelmente alguém resolva dedicar tempo a ler, limitar-me-ei a descrever as coisas, os ditos eufemismos, tal e qual como os vejo e sinto.
Neste blogue farei uso do rico e precioso vernáculo português quando me aprouver e sempre que um determinado eufemismo me revolva de tal forma as entranhas que só um bom grito de "Foda-se!" me permita exorcizar a sensação de impotência e libertar a tensão.
Não sou um ser perfeito, aliás bem longe disso, mas tenho olhos na cara (ou no coração?) e um cérebro que me permite pensar e avaliar o que se passa à minha volta. Portanto, partilharei aqui cada eufemismo que cruze o meu dia-a-dia e que me ponha a pensar.
Por último, reservo-me o direito de escrever de acordo com a "antiga ortografia" correndo o risco de ser chamado de velho do Restelo, bota de elástico ou qualquer outro "eufemismo" (quiçá até um palavrão), mas faço-o por opção própria e convicção.
Gonçalo Ene
21/02/2014
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11 março 2014

Subnutrição

Escrevo hoje em nome de um eufemismo que está em voga nos tempos que correm.

Oiço e leio ultimamente, e cada vez com mais frequência, histórias de crianças que sofrem de subnutrição.

Oiço e leio histórias de crianças que vêem na cantina escolar a luz ao fundo do túnel (ou devo dizer do estômago) e que esperam encontrar fora de casa o vazio que lhes enche as entranhas.

E de que sofrem estas crianças (e, já agora, os adultos!) dos nossos tempos?

Chamam-lhes subnutrição, subalimentação, défice nutritivo,... mas estão enganados! Estão a suavizar, a embelezar e a carimbar de inocência uma palavrinha de quatro letras que, apesar de ter um O e um M no meio e de nos revolver o corpo de forma visceral, não é o Amor.

Pois que se fodam os eufemismos! Estas crianças, estas gerações de um País que se diz evoluído ou desenvolvido estão, em pleno século XXI, a passar Fome!

Deixe-mo-nos portanto de tretas e de "fala-baratismos" caros. Os termos técnicos e as menções de cariz médico-fisiológico não enchem barriga.

As tretas que nos impingem diariamente, que nos entram pelos cinco sentidos dentro quase automaticamente e sem pedir licença, não servem a estas crianças para preencher um frigorífico vazio. Não conseguem nutrir de esperança os olhos vazios de brilho que estagnam perante o alvo frio gelado e repleto de vácuo.

É Fome car@s amig@s e não é em África, não é no "3º Mundo". É no nosso País, na nossa Cidade, na nossa Rua; quiçá, no andar ao lado?

É Fome! Mas que se lixe, porque estamos agora mais competitivos, mais cumpridores, mais "ajustados", menos gastadores,... estamos tudo isto e ainda assim milhares (ou milhões?) de nós estão esfomeados.

Mas como só a Morte não tem solução, deixe-mo-nos dormir, porque interessa a alguns e afinal, como se costuma dizer, "dormir é meio sustento".






2 comentários:

  1. Pois no que me toca, eu gosto muito de encher a barriga e por isso dormirei muito pouco, ou manter-me-ei o máximo tempo que puder acordado. Pois todos os dias "ando por aí" e vejo o que por cá se passa! Caro Gonçalo ... subscrevo as suas sábias e sentidas palavras!

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  2. Infelizmente como é uma realidade escondida, não conta para a estatistica... e sim, está mais perto de nós do que imaginamos... :(

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