A Génese deste Blog

Crio este blog numa fase particularmente nebulosa da minha vida, mas a verdade é que este é porventura um momento em que as verdades essenciais se me afiguram mais claras.
"Falarei" sem rodeios dos eufemismos que nos rodeiam no dia-a-dia e que vão travestindo de forma mais ou menos subtil as verdades que não são ditas ou que, de tão bem camufladas, tendem a perder o seu real impacto.
Não pretendo aqui partilhar, pregar ou defender cores, bandeiras, religiões ou políticas. Nos escritos que aqui deixar, e que amavelmente alguém resolva dedicar tempo a ler, limitar-me-ei a descrever as coisas, os ditos eufemismos, tal e qual como os vejo e sinto.
Neste blogue farei uso do rico e precioso vernáculo português quando me aprouver e sempre que um determinado eufemismo me revolva de tal forma as entranhas que só um bom grito de "Foda-se!" me permita exorcizar a sensação de impotência e libertar a tensão.
Não sou um ser perfeito, aliás bem longe disso, mas tenho olhos na cara (ou no coração?) e um cérebro que me permite pensar e avaliar o que se passa à minha volta. Portanto, partilharei aqui cada eufemismo que cruze o meu dia-a-dia e que me ponha a pensar.
Por último, reservo-me o direito de escrever de acordo com a "antiga ortografia" correndo o risco de ser chamado de velho do Restelo, bota de elástico ou qualquer outro "eufemismo" (quiçá até um palavrão), mas faço-o por opção própria e convicção.
Gonçalo Ene
21/02/2014
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05 maio 2014

O Futuro (ou como nos é "vendido")

Na Sociedade actual, nos tempos dito modernos, fala-se, arriscaria excessivamente, no Futuro. O Futuro converte-se quase imediatamente numa entidade constante nas nossas vidas.

O Futuro passa a ser uma obsessão doentia: Vai haver cautelar ou não? Qual vai ser o défice? Quais serão os sacrifícios? Terei emprego? Haverá direito à reforma? Conseguirei sustentar os meus filhos? Serei feliz? Viverei?

As questões amontoam-se umas em cima das outras, e todas em cima de nós, ao ponto de parecer que sufocamos. Curioso, não? Tornamo-nos tão obcecados com o Futuro e acabamos por afogar o Presente, acabamos por nos esquecer de viver.

O Futuro, este futuro que nos corrói a alma, acaba por ser a eterna cenoura que perseguimos, esquecendo que as chibatadas que levamos da Vida acontecem Agora e que a carga que carregamos às costas já passou há muito tempo, mora num lugar chamado Passado.

O Passado, esse, acaba por ser a fonte de alimentação deste Futuro que nos arrasa no dia-a-dia: queremos ardentemente não cometer os mesmos erros, ansiamos por não sofrer o que sofremos, lutamos por ter mais do que tivemos, desejamos amar mais do que amámos.

Mas quando nos apercebemos, já estamos a conjugar os verbos novamente no Pretérito Imperfeito e as oportunidades do Futuro, fugazes como uma brisa fresca em tarde quente de Verão, simplesmente passaram... É a verdade: esforçamo-nos  de tal forma por viver o Futuro, que acabamos por conseguir apenas sobreviver na rotina que aceleradamente se converte em Passado.

Nesta luta diária, em que obsessivamente buscamos o amanhã de olhos postos no dia de ontem, alimentamos a fornalha das preocupações, dos projectos, do que há-de vir, esquecendo que o dia, a hora, o minuto, o segundo, mais importantes são este preciso momento. Estamos aqui, estamos vivos, merecemos sorver este instante como se fosse o último das nossas vidas ou como se encerrasse na sua pequenez uma imensidão infinita.

No entanto, e como interessa à “sociedade actual”, importa pensar assim, importa retermo-nos no Futuro que não sabemos sequer existir. Interessa marchar no carreiro, interessa subsistir, interessa produzir, interessa alimentarmo-nos dos que vacilam e tombam ao nosso lado, interessa garantir que a rainha ponha os ovos, reproduza, crie mais de nós, para se perpetuar este ciclo de medo do Futuro que nos mantém, quais formigas esmagadas pela responsabilidade, a caminhar cega e obedientemente umas atrás das outras.

Claro que não advogo a irresponsabilidade generalizada. Óbvio que devemos fazer projectos e pensar no Futuro o quanto baste, mas tal como o Passado que não podemos alterar, tratemos o Futuro como ele realmente é: uma realidade por vir que não podemos controlar.

Esta verdade nua e crua remete-me para uma imagem que se repete na minha cabeça. A imagem de um eterno candidato a passageiro, petrificado na plataforma, que olha com melancolia para a escuridão do túnel que engoliu o combóio que já passou, enquanto espreita com ansiedade para a luz do combóio que há-de entrar na estação, sem no entanto chegar a dar o passo em frente, sem entrar em qualquer carruagem, sem arriscar viver.

Pois deixemos de ser aquele passageiro estático e com medo de arriscar e sejamos incomensuravelmente mais felizes: vivamos o Presente!


"Yesterday is History, Tomorrow a Mystery, Today is a Gift, Thats why it's called The Present"
(frase de autor desconhecido que me foi dada a conhecer por um irmão)
 


2 comentários:

  1. Amigo, grandes palavras, as quais me permito complementar citando um pequeno excerto de uma música: "HOJE é uma dádiva, é por isso que se chama PRESENTE." Vivamos a vida. Abração!!!

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  2. A Vida prega-nos muitas partidas e vivemos nós tão preocupados com o Futuro...que nos esquecemos que de um momento para o outro......podemos já cá não estar....e tanta preocupação torna-se em anedota do Destino....
    kisses

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